10 novembro 2009

Spironucleus Vortens- o lado negro dos discus


Quem lida com discus, já viu o cenário muitas vezes: o peixe perde o apetite, deixa de evacuar, escurece, surgem fezes brancas filamentosas, fica apático, deixa de procurar comida, começa a emagrecer e morre de uma infecção bacteriana potenciada pelo estado de profunda debilidade geral e pela degradação do seu sistema imunitário.
Aconteceu comigo e já aconteceu com toda a gente.
Com a experiência, já não se deixam os bichos morrer.
Matam-se, metendo-os dentro de um saco com água, que vai para o frigorífico, para, ao menos, lhes apressar a morte e assegurar que seja indolor.
Custa muito, mas é pior ver um bicho aos saltos, a rodopiar no estertor da morte.
Da primeira vez, corri os fóruns e encontrei dezenas de relatos e pedidos desesperados de ajuda, conjuntamente com o mesmo diagnóstico (são ténias) e a mesma solução milagrosa (o flagyl na água).
Não esqueço o dia em que, com um peixe a emagrecer a olhos vistos, apliquei o dito Flagyl na água e o animal começou a expelir um longo filamento translúcido pela cloaca.
Era a ténia, a malvada, o bicho nojento e asqueroso estava morto e o peixe salvo.
O meu primeiro acto veterinário tinha sido um sucesso.
Não foi e o peixe morreu duas ou três semanas depois.
Morreu, porque não tinha ténia nenhuma e o Flagyl na água não faz efeito nenhum para o mal que o bicho padecia.
Um pouco de estudo mais aprofundado, mostrou-me que os discus (com excepção dos selvagens recolhidos da natureza) muito raramente são afectados pelas denominadas ténias e que, em rigor, são platelmintos ou nematelmintos, que aquelas "ténias" eram, de facto, a mucosa intestinal afectada a ser expelida e que aqueles sintomas correspondiam, na verdade, a uma infestação pelo protozoário flagelado em epígrafe.
O mesmo estudo cuidado revelou-me também que o modo tradicional de combate à doença passava pelo metrodinazol, princípio activo do dito Flagyl (medicamento de uso humano, que é um antibiótico de largo espectro, muito usado nas denominadas doenças de senhoras), quer na água, que na alimentação.
Pois se era o Flagyl que matava o cabrão do protozoário, seria o Flagyl que ia matar os protozoários dos meus peixes.
Penei.
Quando o bicho mostrava sintomas e já não comia, lá esmagava os comprimidos e diluía na água.
Morriam invariavelmente.
Passei a dar-lhes o Flagyl na comida e, por vezes, parecia que funcionava.
Mas, passado uns tempos, lá voltava o mal.
Estive prestes a desistir dos peixes.
Andei pelo flubendazole (Fluvermal), pelo praziquantel (Tenilvet), pelo mebendazol, pelo nifurpirinol, toda uma parafernália de medicamentos e combinações de medicamentos para uso humano, uso veterinário e preparados próprios para a aquariofilia, com tentativas de diluição em água, em álcool etílico e em tudo o mais que ao diabo possa lembrar.
Remédios de gente, de pombos, de porcos, de cavalos, de peixes, remédios de tudo.
Quando engordei a ninhada que comprei ao Duarte (os pais destes que agora por lá andam) descobri um produto composto por metrodinazol a 100%, o Metro da Seachem, que comecei a dar na comida de dois em dois meses, cinco dias seguidos, conjuntamente com um outro produto da mesma marca o Focus, que, basicamente, é nifurpirinol, um outro potente antibiótico.
Funcionou.
Os bichos cresceram, medraram e nunca mais voltei a ver fezes brancas filamentosas.
Repeti a receita com estes marmelos e também nunca tive chatice nenhuma.
Com a arrogância dos imbecis, sorri quando vi estes novos com fezes brancas.
Umas colheradas da poção mágica na comidinha, que é para limpar a tripa e ficam como novos.
Não ficaram.
Aquilo limpou, mas voltou.
Os quatro azuis e o Alenquer da lista preta deixaram de comer.
Fiz metrodinazol na água.
Nada.
Era um problema que sinceramente esperava não voltar a ter e que só existe fruto da minha grande incúria ao não fazer quarentena.
Mas está aí, o mal está feito e, agora, não vale a pena chorar sobre leite derramado.
Há que encontrar uma estratégia de combate e ganhar a guerra, ou, pelo menos, o maior número possível de batalhas.
Cada peixe é uma batalha.
Primeiro passo, estudar.
Só agora descobri 3 importantes factos que explicam a minha experiência e a ineficácia do metrodinazol nas circunstâncias em que o utilizei.
1º o metrodinazol tem por temperatura de actuação os 37º. É um medicamente para uso humano, funciona à temperatura do corpo humano. Como os discus não podem ser sujeitos a tempraturas superiores a 35º e é vulgarmente recomendada a sua aplicação a 30º, está aqui a primeira causa da ineficácia do tratamento em água e explicado o relativo sucesso do uso na alimentação.
2º o metrodinazol dissolvido em água precipita quando exposto a luz intensa. Nunca vi recomendado o apagão durante o tratamento e os aquários estão normalmente expostos a luz forte. Mais uma razão para justificar a ineficácia do tratamento em água e a eficácia do uso na alimentação.
3º o metrodinazol combate eficazmente o protozoário em causa, mas não elimina os seus cistos que existam na parede intestinal do animal, o que explica as frequentes recidivas, mesmo em animais desparasitados por via oral.
Portanto, não há nada a fazer?
Tem de haver.
Parti agora para uma estratégia agressiva de tratamento em aqua hospital, a implicar a transferência dos peixes, utilizando a combinação de 5-Nitro-1,3 thiazol-2-ylazan, palmitato de ácido ascórbico e bissulfato sódico de menadiona, sendo que a menadiona é o agente catalisador do tiazol, apresentado pela Sera, na sua linha profissional, sob a marca Flagellol.
Diz que funciona.,
Para já, tenho três bichos no aqua hospital, sem filtro biológico nenhum, em respeito pelas instruções da bula.
Não faz muito sentido a recomendação de fazer o tratamento durar três dias com uma única aplicação, num aquário sem filtro biológico, pelo que vou fazer TPA diária de 80%, com água do tanque principal e de reposição, na proporção de 50%/50%, mantendo na coluna de água a quantidade do medicamento eliminado pela troca (1ml/40l), através da adição diária do proporcional.
Allah uh akbar.

3 comentários:

mac disse...

pbl, o Lorde está melhor?
E o Pancrácio, não está afectado, pois não?
Conseguiu caçar os outros doentes?

2009 é ano aziago.

Nuno Almeida disse...

Numa das duas vezes em que consegui eliminar com eficácia os parasitas, fiz, depois do tratamento com flagyl, em aquário hospital um tratamento com Terramicina.

Pelo que me foi explicado, o flagyl limpa os parasitas, de facto, mas os intestinos ficam feridos (por isso sai o tal muco) e o Terramicina tem como objectivo a cicatrização.

pbl disse...

Nuno, a terramicina é um antibiótico de largo espectro, com o mesmo campo de acção do metrodinazol.
Segunda as bulas é oxitetraciclina dihidratada, altamente ativo contra um grande número de microrganismos Gram positivos, Gram negativos, certas espécies de micoplasmas, riquétsias e protozoários.
Redundante em relação ao flagyl, provavelmente mais eficaz.
De notar que o protozoário, por si, não mata.
Os peixes morrem das infecções bacterianas secundárias.
Daí a importância do antibiótico de largo espectro.
Para essa função específica, inclino-me para o nifurpirinol, mais do que testado em peixes e disponível em várias apresentações, de diversos fabricantes.
Dentro em pouco, farei o update das primeiras 24 horas, que adianto ter um balanço positivo.
O tamanho do + depende apenas pela reacção à alimentação, que vou dar agora mesmo.
Estou com uma grande expectativa.

Mac, nenhum dos nossos pequenos está afectado, pelo menos por agora, descanse.
O Lorde da risca preta é um dos que está em tratamento.
E não, não os consegui apanhar.